Centro de Convivência da Família Padre Pedro Vignola: jogos, atividades físicas e música são excelentes para sair da depressão

Texto: Margarida Galvão/Fotos: Jander da Silva Souza

A depressão é uma doença psiquiátrica que afeta o emocional das pessoas acarretando tristeza profunda, falta de apetite, de ânimo, pessimismo, baixa autoestima. Considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como o “mal do século”, ela atinge pessoas de todos os sexos, classes sociais e faixas etárias. Ela sempre existiu, mas não era devidamente diagnosticada, contudo tornou-se mais frequente no decorrer das últimas décadas e está relacionada com o estilo de vida que as pessoas levam nas grandes cidades. A OMS estima que até 2030, no mundo, a depressão se tornará uma doença comum, por conta do grande número de pessoas que estão apresentando tais sintomas.

Jonathan Santos de Andrade, 33 anos, ensino médio completo, faz o tratamento contra depressão desde 2012. Ele conta ter descoberto a doença após ter sofrido um surto no local de trabalho, numa empresa do Distrito Industrial de Manaus. Depois desse episódio, ele foi encaminhado para a Previdência Social, inclusive está recebendo o auxílio do Benefício de Proteção Continuada (BPC). Desde então, passou a ter insônia, ouvir vozes e começou a fazer tratamento com o uso de medicamentos. Jonathan é um dos milhares de frequentadores do Centro Estadual de Convivência da Família Padre Pedro Vignola, Cidade Nova, zona norte, criado em 2007. Além do curso de Cabeleireiro e Barbearia, participa de várias atividades no local, entre os quais caminhadas.

“Hoje me sinto feliz, produtivo, principalmente quando corto um cabelo e a pessoa dá um sorriso para mim! Tenho paz, porque estou estudando e sendo útil para as pessoas, além de que tudo isso é uma terapia”, disse Jonathan, que ganhou um kit (material para cortar cabelo como maquina, pente e capa) dos colegas do Centro e está colocando em prática o que tem aprendido. “Já estou cortando o cabelo dos meus filhos, meu irmão e até dos vizinhos”, informou, ressaltando sua intenção de trabalhar na profissão quando concluir o curso.

Quando não está no Centro de Convivência, Jonathan vende picolé o que lhe dá um rendimento extra. Antes de ter sofrido o surto, era usuário de cigarro, bebida alcoólica e drogas. “Eu tinha um vazio existencial que tentava preencher com vícios e mulheres, mas não resolveu. Hoje, eu acordo cedo para fazer caminhada e exercícios. Ainda faço tratamento para depressão, que somado a fé, que me ajudou bastante, estou tendo um novo horizonte.


Acompanhamento médico – Especialistas da área psicológica consideram imprescindível o acompanhamento médico tanto para o diagnóstico quanto para o tratamento adequado, que envolve o terapêutico, dependendo do caso. A doença provoca ainda ausência de prazer em coisas que antes faziam bem e grande oscilação de humor e pensamentos, que podem resultar em comportamentos e atos suicidas. Aliado ao tratamento, recomendam uma alimentação equilibrada, atividade física regular e repouso.
 

Ana Paula Santos, 50 anos, mãe de 2 filhos, faz tratamento para depressão – psicológico e psiquiátrico -, desde 2012. O excesso de trabalho somado à doença da mãe, que se tornou cadeirante por conta de problemas renais, vindo a óbito em 2016, tudo isso gerou uma sobrecarga que lhe rendeu uma alta carga física e emocional resultando em crises de pânico e medo. “Comecei a ter medo de tudo, inclusive de sair de casa, pegar ônibus”, conta, lembrando que inicialmente fez tratamento com medicação, que segundo ela, não ajudou muito, chegando ao ponto de só sair de casa acompanhada.

Atualmente Ana Paula está fazendo terapia individual e já conseguiu voltar para as atividades do Centro de Convivência, coisa que não fazia há um bom tempo. Ela conta que os grupos têm lhe ajudado muito nesse recomeço, inclusive passou a fazer ginástica, sessões de fisioterapia e está fazendo parte do grupo “Convivência com a Alegria” para exercitar a memória. “Com todas essas atividades no Centro, voltei a me sentir bem”, diz Ana Paula, que é separada e mora com o filho que faz faculdade, enquanto a filha mora em Florianópolis. Ela disse ainda que as crises de pânico e medo culminaram em perdas amorosas, afora passeios e viagens. Na opinião dela, só sabe o que é depressão e transtorno de ansiedade quem passou ou acompanhou alguém neste estado. “Tem gente que não entende e, ao invés de ajudar, deixa a gente mais doente”, lamentou.

Bagagem de problemas – A diretora do Centro, assistente social Elizabeth Maciel, disse que os usuários do Centro, em sua maioria, chegam com uma bagagem muito forte de problemas, oriundos de várias situações vivenciadas. Uma delas é o processo depressivo que atinge tanto crianças e jovens, como adultos e idosos. Os fatores são diversos: desemprego, aluguel atrasado, dependência química, relacionamentos mal resolvidos, falta de alimentos em casa etc. “Esse somatório de problemas, normalmente puxado pelo desemprego, se torna algo terrível para muita gente, principalmente um pai ou mãe de família, que se sente sem oportunidade, o que gera sentimento de fracasso e isso desencadeia uma série de problemas”, mencionou, ressaltando que normalmente as pessoas nessas condições buscam a igreja, como consolo espiritual e o Centro para interagir com outras pessoas.

Segundo Beth Maciel, numa conversa no psicossocial – escuta qualificada no trabalho realizado pelo serviço social dentro do Centro da Família Padre Pedro Vignola -, é possível identificar como as famílias estão adoecidas, por diversos problemas e isso desencadeia uma série de problemas, entre os quais de transtornos mentais, diagnosticados. “Isso é preocupante na sociedade de hoje. O processo de ansiedade é muito forte, consome as pessoas que anseiam por algo e não conseguem, vão se angustiando e desencadeia uma série de problemas”, assinalou.

Assistência social – O Centro Estadual de Convivência da Família Padre Pedro Vignola é um projeto que faz parte da política de assistência social do Estado realizado em parceria com a Secretaria da Assistência Social (Seas), Secretaria de Estado de Cultura (SEC), Secretaria de Estado de Juventude, Esporte e Lazer (Sejel), Centro de Educação Tecnológica do Amazonas (Cetam), Fundação Universidade Aberta da Terceira Idade (FUnATI) e Secretaria Municipal de Educação (Semed). Seu horário de funcionamento é de segunda a sexta, das 8h às 17h, sendo que as caminhadas iniciam 5h30 e as atividades na piscina às 6h.

 

Além disso, o Centro tem atividades culturais aos sábados realizadas pela Sejel e ainda tem a concessão de espaços nos finais de semana. Por sua vez, a FUNnATI, desenvolve atividades para idoso na parte física, recreativa, pilates, ginástica funcional, equilíbrio, natação, tudo isso visando o estado físico e psicológico do idoso. A Secretaria de Cultura trabalha com o público jovem e idosos oferecendo dança, teatro, coral, instrumentos como violão. O Cetam trabalha com cursos de corte de cabelo, barbeiro; corte e costura enquanto a Sejel disponibiliza atividades físicas, hidroginástica, dança.

“Dentro da política de assistência social, somos a proteção básica, trabalhamos na ponta com o usuário com o objetivo de fortalecer vínculos, resgatar valores por meio de visitas, escutas, oferecendo cursos de danças, corte e costura, customização, bem como, escova, corte de cabelo e manicure”, disse a diretora, ressaltando que Centro da Família tem esse papel na zona norte, de resgatar a dignidade das pessoas que muitas vezes chegam no local sem esperança alguma.

 
Após uma conversa, Beth Maciel disse que a equipe procura encaixar essa pessoa, dentro das condições e da capacidade que o Centro oferece, numa área que ela possa se desenvolver fisicamente e intelectualmente. “Quando essas pessoas começam a desenvolver as atividades no Centro, elas vencem obstáculos como angústia, pré-depressão e até a depressão, dando outro sentido à vida”, afirmou.

A secretária Márcia Sahdo destaca que a assistência social ao atuar na proteção básica desenvolve um importante papel preventivo: “Quando o Governo do Amazonas promove essas atividades, as pessoas contam com um apoio fundamental que as ajuda a sair de situações que se não forem percebidas logo, culminam em graves problemas de saúde”,  pontua.

Interação social – Maria Iza Magalhaes Souza, 75 anos, mãe de 3 filhos, considera a convivência no Centro Padre Pedro Vignola excelente pelo fato de interagir com várias pessoas. Ela conta que chegou no local há quatro anos com um início de um processo depressivo, decorrente das dificuldades enfrentadas com o marido, que é alcoólatra (hoje estão separados), com os filhos, principalmente com uma neta que criou e que lhe rendeu sérios problemas. “O curso de violão somado à dança e outras atividades que faço me fizeram tomar gosto pela vida, que já não tinha mais tanto valor por conta dos inúmeros problemas”, assegurou.

 

Maria começou a fazer dança, depois resolveu frequentar as aulas de violão e hoje já toca algumas músicas. “Como boa cearense, minha mãe tocava violão e queria que os filhos aprendessem, mas nunca me interessei e hoje estou eu aqui às voltas com violão, arriscando algumas letras do Roberto Carlos. Também estou no curso de Customização de Roupas (modificar roupas prontas), além de fazer crochê”, mencionou, aconselhando as pessoas idosas a fazerem atividades para evitar a ociosidade e a depressão.

A diretora do Centro, Beth Maciel, mencionou que, ao contrário de Jonathan, que convive com um processo de depressão diagnosticado, que já estava causando transtorno mental, Maria Iza Magalhães Souza vinha carregando, há muitos anos, uma carga de estresse grande por conta dos problemas familiares. Logo, essa convivência no Centro está lhe propiciando um novo horizonte. “Os momentos que fica no local faz relaxar, por conta da música, também lhe proporcionou a chance de produzir algo que possa lhe proporcionar uma renda extra, com as roupas que modifica”, sintetizou.